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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Homenagem ao Projeto Sementeira Suzano

SEMENTEIRA

Sementeira pede solo fértil.
Sementeira exige sementes.
Sementeira requisita regas.
Sementeira pressupões caminho.

Solo fértil para plantas e idéias.
Sementeira sombra e pensamentos.
Regas que fazem crescer homens e flores.
Carinho, manifestação de amor.

Sementeira que pede união.
Sementeira que exige visão.
Sementeira que requisita ação.
Sementeira que pressupõe crescer.

União que é reunião de irmãos.
Visão que é acreditar no sonho.
Ação que é o trabalho solidário.
Crescer, pois nossa missão é a evolução.

Márcio F. de Amorim
Médico e escritor

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Reflexão para junho : Atitudes- Lélio Costa e Silva

RECADOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


ATITUDES
Lélio Costa e Silva



Hoje, em nome do individualismo e da competição, olhamos as pessoas com desconfiança. Os cumprimentos tornaram simples interjeições que na rotina não expressam o seu verdadeiro significado, em nome de uma formalidade que distancia cada vez mais os indivíduos. São as saudações sem sentido. As pessoas mal se olham. Na rua se alguém olha o outro gera logo desconfiança: “o que é que esse cara está querendo comigo? Me assaltar?”



Em uma exposição de desenhos com o tema natureza vemos um desfile de imagens da fauna e flora. Também ainda alguns trabalhos escolares mostram a natureza perfeita e o “homem como destruidor”. Redações e expressões não se cansam de avisar que “há um homem destruindo o planeta”. Que ser humano é esse? Esse homem existe dentro de cada um de nós? Será que nos incluímos, fazemos parte, e somos também esse “homem”? Ou ele não passa de um ser imaginário e sem identidade? Não há como dividir, não há como excluir, tudo faz parte de tudo.



Diante da separatividade, do distanciamento dos ambientes naturais e de um modo de vida cada vez mais artificial, a relação do indivíduo com o planeta torna-se incompleta. Estranheza, desconhecimento e preconceito permeiam o olhar sobre os elementos que a princípio não oferecem nenhum beneficio imediato. Um animal tem que ser necessariamente “útil” ao ser humano?Qual o sentido de uma fauna e uma flora tão diversificadas?Que relação a biodiversidade tem com o equilíbrio do planeta?Por que um trabalho de Educação Ambiental levanta essas questões? Como a escola, na sua prática, aborda esse tema? Nas dramatizações, murais, cartazes e outros trabalhos artísticos que tipo de fauna é representada? Tem cobra? Preservar um animal tem o mesmo significado de preservar o humano?



Gestos simples de higiene devem ser sempre relembrados não somente com as crianças, mas também com os adultos. Várias doenças podem ser evitadas pelo ato corriqueiro de lavar as mãos. As pediculoses são produzidas por insetos chamados “piolhos”. Os que infestam o ser humano pertencem, quase todos, à espécie Pediculus humanus. A transmissão é de pessoa a pessoa, ou através de toalhas, roupas de cama, pentes, escovas de cabelo e sabonete. A pediculose da cabeça é muito freqüente entre escolares. A ftiríase ocorre entre jovens e adultos, pela da prática sexual com pessoa infestada.
Para controle dos piolhos
1- Inspecionar a cabeça, o corpo e as roupas de crianças.
2- Asseio corporal diário, lavagem dos cabelos, com água quente e sabão medicinal. Não repetir roupas sem lavá-las.
3- Retirar os piolhos com pente fino.
6- Não tente esmagar o piolho com as unhas: você pode contrair doenças como Tifo exantemático ou epidêmico, Febre das Trincheiras e a Febre recorrente.



A CORDIALIDADE é uma virtude que anda esquecida pelas pessoas. Muitas vezes os mais jovens são instados a cederem o lugar para os mais velhos e nem sempre cumprem de bom grado esse preceito previsto no estatuto do idoso. Com a visão embaçada pela mística da eterna juventude, tão apregoada pelos meios de comunicação, esquecem-se que um dia “chegarão lá”...
Mas não se esqueça de se hidratar. A água continua sendo a melhor opção para o cidadão comum. Deixe as bebidas isotônicas para os atletas. Se o suor for intenso, um suco de frutas ajuda a repor os sais minerais perdidos na transpiração.



As pessoas adeptas da solidariedade sabem que esta virtude representa o ato de pertencer a um conjunto que se expressa democraticamente em um vínculo recíproco. Braços abertos e ombros disponíveis para os momentos difíceis. Além disto, o ar que todos respiram fica menos poluído. Um gesto inteligente é combinar antes um rodízio com aqueles que têm carro estendendo o favor aos demais colegas.



Parabéns para você também que exemplifica o verbo zelar ao adotar uma praça, como um patrimônio que deve ser cuidado, ou mantendo as ruas, praias e escolas limpas! Que também organiza campanhas para doar vidros e garrafas para uma instituição de caridade... Vamos sempre imaginar: pessoas tranquilas nos bancos de praças perfumadas lendo os jornais da manhã e o sol anunciando notícias boas...



O gesto denuncia o dono. São inúmeros os acidentes causados por objetos jogados nas ruas ou pelas janelas dos veículos. O vidro deixado junto ao capim seco e em presença de altas temperaturas pode ser a causa de inúmeros incêndios nas beiras das estradas e mesmo em reservas naturais. São também freqüentes os acidentes com animais que ingerem plásticos, isopor e pontas de cigarros, cortes com latas e outros materiais.



Cultivar plantas medicinais em casa e compartilhá-las com os vizinhos. Um gesto saudável, solidário e oportuno para regar as boas amizades. Um bom motivo para retomar o diálogo e estreitar relações. Muitos o imitarão por isso e a vida em seu entorno será mais alegre.



CUIDADOS NO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS

1- Usar preferencialmente nos tratamentos de doenças leves, pois muitas apresentam efeitos tóxicos ainda não conhecidos.
2- Identificar a planta pelo nome científico, pois uma espécie de planta possui vários nomes populares conhecidos regionalmente.
3- Nunca esquecer que muitas vezes cada parte da planta tem mais ou menos princípio ativo.
4- Para cada uso de planta medicinal existe uma fórmula de preparo como, por exemplo, a infusão, decocção e cataplasma.
5- Plantas de uso tópico não podem muitas vezes ser ingeridas: o Confrei – Symphytum officinale como cataplasma é um excelente cicatrizante, mas seu uso interno pode causar tumores no fígado.
6- Usar as plantas sempre no mesmo dia do preparo. Nem em quantidades excessivas e contínuas.
7- Evitar misturar muitas plantas. Podem causar efeitos indesejados pela ação diferente dos princípios ativos.
8- Para preparar as plantas evite recipientes de alumínio que é tóxico.
9- Colher plantas antes de o sol esquentar, sem sereno, ou molhadas de chuvas.
10- Não coletar plantas de locais poluídos: beira de asfalto, águas estagnadas. A secagem deve ser feita sempre à sombra.



Informa a Organização Mundial de Saúde que “as pessoas, nos países mais pobres estão abandonando estilos de vida e adotando comportamentos não saudáveis, dos países mais industrializados”. Assim já é comum encontrarmos crianças hipertensas, diabéticas, cardíacas ou com sérios problemas de obesidade devida a uma falsa alimentação embalada em produtos químicos e grande propaganda. Por outro lado é inegável a quantidade de crianças, jovens e adultos desnutridos, seja pela miséria ou omissão. Uma escola que possui horta nunca será uma escola sem vida. E não podemos esquecer: comer não é adoecer.



Que fiasco! Tem gente que ainda não substituiu os copos descartáveis no ambiente de trabalho pelos de vidro ou louça? Entre um cafezinho e outro, o mundo vai ficando cada vez mais insuportável. O lixo sólido deve aumentar quatro a cinco vezes até 2.025. Nos países em desenvolvimento, menos de 10% do esgoto humano é tratado. Se nada for feito, por volta de 2025, o planeta estará engolfado numa montanha de esterco humano. (fonte Agenda 21 capítulos 20,21 e 22).



O século XXI não comporta mais ações que levam ao desperdício devido ao consumo desenfreado - uma manifestação de uma sociedade doente. Resultado do consumismo, o lixo denuncia a incapacidade do ser humano em devolver o que ele retira da natureza com a mesma qualidade e sanidade.
O que temos jogado no lixo? Computadores em plenas condições de uso, cuja cor já não “combina” com os móveis. Máquinas de lavar roupa que são deliberadamente projetadas para cinco anos. Ventiladores de teto criados para dois verões, no máximo. Tudo isso representa gasto de energia, matéria-prima e combustível exaurindo os elementos do planeta. Daí a necessidade de aprendermos a economizar desde os primeiros momentos na escola.



Mais que apenas um dever, o ato de apagar a luz quando deixamos um ambiente, isto é, utilizar o sentido do TATO no interruptor, deve ser um gesto natural em nosso cotidiano. Deixe também as tomadas desligadas dos aparelhos eletrônicos. Aquela luzinha vermelha que coloca seu aparelho de som em “tempo de espera” (stand by) é um consumidor sutil e voraz de energia elétrica. Todo mundo sabe da dificuldade que representa a nossa adaptação a um “horário de verão” para economia de energia elétrica, e o quanto tem ficado cara a conta a pagar no final de cada mês. Cada vez mais usinas hidrelétricas têm sido necessárias e outras fontes de energia têm sido buscadas. Até quando?



Uma visita a um ambiente natural deve ser trabalhada como uma oportunidade de quebrar preconceitos e dirimir equívocos tais como “a floresta é escura e moradia dos maus espíritos, de bruxas que cozinham crianças, de lobos ferozes, de serpentes descomunais”, ou de explicar ao visitante, que existem também a microfauna e microflora e que mato não é somente “lugar de bicho grande”. Mas representam também, uma grande oportunidade para recuperar a noção do Todo, em contraposição a duas idéias fundamentais profundamente arraigadas nas pessoas: “A de que o ser humano está acima de todas as criaturas e de que os ambientes naturais foram criados para seu único benefício.”
Trata-se, portanto, de um ótimo momento para reconhecer o caráter sagrado da Natureza na sua maneira altruística de oferecer e manter a vida.



Não é justo fazer do mar o lixão do mundo. Não podemos esquecer que o lixo produzido não desaparece como em um passe de mágica. Ele irá para algum lugar. E agora os oceanos estão virando verdadeiros lixões do planeta. Logo eles que são os verdadeiros pulmões do mundo responsáveis pela fotossíntese realizada pelo fitoplâncton marinho. E os rios cheios de todo tipo de lixo, de garrafas pet, sacolas e copinhos de plásticos fezes e produtos químicos irão morrer literalmente no mar.



A nossa maior luta diária é aquela que empregamos para vencermos o nosso próprio ego. Quanto custa a cada um pegarmos em uma vassoura e varrermos o próprio lixo ou mesmo o do vizinho? Que tal conhecermos a experiência de vida de um gari, procurando saber sobre o seu serviço, sobre a sua atividade de presenciar e constatar o desperdício das coisas descartadas? Quantos de nós já separam o lixo? Por que não comprar apenas o necessário? Observe quantas vezes temos ouvido a palavra “consumidor”. Hoje, muitos medem as pessoas pelo valor da conta bancária, pelo cartão de crédito, enfim, o “poder de compra” da pessoa é o que vale. Então vemos termos como “manual do consumidor”, “direitos do consumidor”, “defesa do consumidor”. Será que o sentido da vida só se resume em consumir? Onde fica o cidadão?
Esta é mais uma das sérias contradições do nosso chamado estilo de vida moderno. Feche os olhos para o consumo exagerado.



O que é mais importante aprender? A limpar ou a não sujar? Ao abordar-se a questão do lixo, pretende-se a discussão da nossa responsabilidade de aprender a lidar com o poder da tecnologia. Uma autêntica techné (palavra grega) que não pretenda o domínio desmesurado da natureza, mas que respeite o ritmo próprio dos seus elementos. É preciso demonstrar que quando o indivíduo “compra” um produto ou serviço ele deve saber que também que está adquirindo matéria e energia convertidas para construir aquele objeto. Alguém já disse que “não existe sucata, apenas coisas que ainda não encontraram dono”, portanto, vamos usar nossa criatividade.



Alguém já disse que a salubridade de uma nação pode ser demonstrada pelo que corre em seus esgotos. A água é essencial à vida de todos os seres. Ela é a própria generosidade. Não é possível que alguém possa sujá-la a ponto de ninguém conseguir bebê-la depois. Não se suja o próprio corpo.



Se fizermos um exame clínico da Terra, veremos em muitos pontos que a sua saúde anda comprometida e, conseqüentemente a nossa. Novas doenças e outras antigas que acreditávamos controladas abalam a saúde e desequilibram nosso corpo num quadro que associa perversamente ignorância, negligência, desnutrição, miséria, lixo, poluição - a ecologia da desigualdade - Por que algumas doenças que eram consideradas sob controle como a cólera, a febre maculosa, a malária, a febre amarela, a tuberculose e que só aconteciam no meio rural se tornaram urbanas? De que forma as doenças podem estar relacionadas com o os modos de morar das pessoas? Se a Terra fosse vista como o nosso próprio corpo, certamente poderíamos tratá-la melhor, cuidar da sua saúde e descobrir o grande espetáculo comum. E é preciso buscar os três ingredientes essenciais para a saúde: o amor, a casa e o alimento.



Todo ser vivo, bicho, homem ou planta deste Planeta traz do berço uma "agenda" cheia de compromissos. Nela estão guardadas as virtudes e os valores que serão os instrumentos para o florescimento da vida em harmonia. Cada um vivenciando o seu exemplo através do comportamento e modo de sobreviver, agindo pelo instinto ou pela razão. A natureza é a nossa face

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Reflexão para Maio :ORAÇÃO DA BIODIVERSIDADE - Lélio Costa e Silva

Bendigamos a vida, bem-te-ví, bem-te-vejo,
Para que bem nos vejamos.
Que tenhamos olhos de bichos e árvores como promessas de luz.
Para que todos os seres espelhem o ideal da fraternidade.
Que sejamos peixes na tranquilidade do profundo azul...
E que nos berçários de vida ouçamos o choro de um rio como um acalanto.
Também bendigamos a manhã, arara-aurora, o pássaro da luz.
Para que seja estabelecido um novo acordo do humano e o ambiente onde
vigorem a cordialidade e a compreensão do Todo.
Bendigamos a noite como os vaga-lumes, as corujas e os morcegos...
Para que façamos brilhar nossa luz interna.
Que se elabore uma nova ética, onde exista o respeito ao direito de
ser e de viver de cada uma das partes.
Para que a educação reconcilie o ser humano com o universo.
Como o exemplo de cooperação da árvore e da orquídea. Uma promove o
amparo, a outra o encantamento.
Que aprendamos a adivinhar o tempo do descansar e de se retirar...
Como as formigas moribundas diante da passagem.
E estejamos ao mesmo tempo com o olhar voltado para o centro e o Cosmo.
E que, após o sono de transição, nossa esperança renasça sob a benção
silenciosa dos vegetais para que o canto de um pássaro distante e
invisível nos diga:
Sem-Fim,
Sem-Fim,
Sem-Fim.
E que na Terra, como o inseto, de joelhos, louvemos-a-Deus, recolhendo
as amostras enviadas do paraíso celeste: a natureza, a música e as mães.
Sem que a humildade mesmo o saiba.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Reflexão para Março de 2010:AMAR A NATUREZA VEM DO BERÇO - Lélio Costa e Silva

“É o velho galo que possui o conhecimento”. Provérbio grego

“Esta onça está muito velha! Por que vocês não arrumam outra nova?”
Como responsável técnico por um zoo fui interpelado por uma adolescente impaciente em seu sonambulismo juvenil. Preferi o silêncio – minha crença é pela compaixão humana onde a maturidade é um presente.
Não satisfeita, sorriu com desdém e completou: “bicho velho é muito feio”.
Olhando para a velha onça-parda, pensei baixinho: “espero que não tenha escutado...”
Qual seria o conceito de beleza para aquela jovem?
Por que o ser humano anseia uma vida longa, mas ao mesmo tempo, sonha em não envelhecer?
Olhando aquela menina, reflexo da descartabilidade, vi em seu sarcasmo, a representação de ser humano tão cedo desalojado de um mundo outrora encantado. Desanimado pensei: Com a visão embaçada pela mística da eterna juventude, tão apregoada pelos meios de comunicação, essa jovem se esquece que um dia “chegará lá”, ou seja, na velhice, última fase do ciclo de vida do ser humano.
Mas, rapidamente reuni em minha memória os fragmentos para a comunhão com o Todo. Recuperei o equilíbrio pensando nos animais. Por que tenho o privilégio de aprender com eles a cada dia. Assim pensei: afinal tudo na natureza exerce o seu papel. E os animais não estão no ambiente como figuras decorativas de uma paisagem. Ao contrário, também atuam...
Refletindo sobre a longevidade dos animais do zoológico comecei a estimar qual seria a idade de cada um e as lições que tenho recebido ao longo dos anos. Momentos únicos exemplificados por aqueles seres vivos. Não raro, sua sabedoria instintiva sempre foi surpreendente...
Como a história de uma macaca mais idosa de um bando que sabia como ninguém saborear um ovo de codorna, quebrando-o delicadamente com a habilidade superior a muitos primatas, sem perder uma gota do conteúdo.
Dois machos de ema - os mais experientes do bando, que normalmente disputavam a primazia de como o macho vencedor acasalar com todas as fêmeas para depois orgulhosamente se ocupar em fazer o ninho e chocar os ovos, resolveram quebrar esse ritual e entraram em acordo, alternando-se no choco. Sentados juntos tiveram a maior prole que se tem notícia na história do zoo. Zelosos, dividiram a tarefa de cuidar dos treze filhotes em parceria. Viraram manchete nos jornais locais.
A história vitoriosa dos jacarés de papo-amarelo que finalmente puderam procriar, depois de vinte anos de espera, após ganhar um espaço adequado com muita água e vegetação. Antes, instalados em recinto minúsculo, prudentemente a fêmea recusava qualquer aproximação. Hoje sabemos que os jacarés quantos mais idosos mais férteis se tornam...
Mas, agora mesmo, soube de um estudo alemão que revelou que as formigas doentes preferem morrer na solidão. Fazem isso para preservar as demais companheiras de trabalho de qualquer contágio já que são insetos sociais. O altruísmo em prol do grupo. E a lembrança das lições da biodiversidade aflorava-me.
Porém, mais adiante, fui despertado das divagações ao escutar um diálogo alegre de um senhor com sua criança que demonstrava seu deslumbramento com o canto das araras canindés. Naquele momento recuperei meu otimismo em vislumbrar um planeta mais saudável para as próximas gerações.
Lembrei-me de um colega de trabalho, meu “braço direito”, que atualmente encontra-se afastado por motivos de saúde...
Em sua sabedoria humilde de homem do campo, uma vez disse-me uma frase que nunca esqueci: “Amigo, amar a natureza vem do berço”.

* Médico-veterinário, educador ambiental, especialista em ecologia e conservação ambiental.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Reflexão para Fevereiro de 2010:NÃO SUJE A NATUREZA PELA JANELA - Lélio Costa e Silva

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, no art. 171: “Usar o veículo para arremessar, sobre os pedestres ou veículos, água ou detritos”; e art. 172: “Atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias”. Para ambos: Infração – média (4 pontos na carteira); Penalidade – multa (R$ 85,13).
Alguém já percebeu como tem aumentado o lixo nas estradas brasileiras? Nas atuais interrupções de trânsito para obras, as estradas tornaram-se fonte de renda para muita gente, mas a questão ambiental foi literalmente para o espaço. O social destituído do saneamento. Enquanto esperam, as pessoas vão consumindo os produtos de um verdadeiro supermercado ambulante. Tem de tudo: milho assado, sorvetes, picolé, pilões de madeira, salgados, água mineral, refrigerante e até CD pirata. Tudo é comprado por pessoas que teoricamente tiveram acesso a algum tipo de educação e bom poder aquisitivo, mas que não relutam em jogar as embalagens (pior quando são pontas de cigarros) desses produtos pela janela. Para elas, um último recurso – a lei: atirar objetos do carro é falta média, segundo o Código de Trânsito. Além de quatro pontos na carteira de habilitação a multa custa R$ 85. Já o prejuízo ao meio ambiente é incalculável. O acúmulo de lixo aumenta o risco de acidentes, obstrui a drenagem das rodovias e coloca os animais em risco, pois são atraídos pelos restos de comida. Até parece que as pessoas só viajam em uma direção, sem pensar no retorno.
Enquanto isso, a fauna se transforma:


URUBU-CHIPS
PAINEIRA QUEIMADA
JACARÉ-DO-PAPO-FURADO
JENIPAPO-VÔMITO
CAPIVARA-LATA
SUCUPIRA-SEPULTADA
CUTIA-ATROPELADA
SAMAMBAIA-EM-PÓ
SERIEMA-DA-PERNA-QUEBRADA
VINHÁTICO-AZEDO
SAPO-DE-ASFALTO
CANELA-RACHADA
ROLINHA-FOGO-NÃO-APAGOU
IPÊ-CINZA
PERERECA-DE-PLÁSTICO
JURUBÊBADA
COBRA-TOCO-DE-CIGARR0
BROMÉLIA-SECA
MACACO-PREGO
PAU-D’ÓLEO-DIESEL
PAPAGAIO-BUZINA
BRAÚNA-PARA-CHOQUES
CORUJA-DE-FAROL
PAL - MITO
GAVIÃO-CHICLETES
INGÁ - ZOLINA
PICA-PAU-DA-CABEÇA-DECEPADA
E O PAU-BRASIL-SUMIU.
EIS A FAUNA E A FLORA DA ESTRADA...
EM VIAGEM, NÃO SUJE A NATUREZA PELA JANELA.

Para saber: Vale lembrar também a já surrada, mas nunca observada em sua relevância, tabela de decomposição dos produtos no ambiente:

TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO DE RESÍDUOS
Papel: 3 a 6 meses
Jornal: 6 meses
Palito de madeira: 6 meses
Ponta de cigarro: 20 meses
Nylon: mais de 30 anos
Chicletes: 5 anos

Pedaços de pano: 6 meses a 1 ano
Fralda descartável biodegradável: 1 ano
Fralda descartável comum: 450 anos
Lata e copos de plástico: 50 anos
Lata de aço: 10 anos
Tampas de garrafa: 150 anos
Isopor: 8 anos
Plástico: 100 anos
Garrafa plástica: 400 anos
Pneus: 600 anos
Vidro: 4.000 anos

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Reflexão para Janeiro de 2010:COPENHAGUE... AS MESMAS PULGAS, CARRAPATOS E PIOLHOS.: Lélio Costa e Silva

Esta história foi escrita em 1995, três anos após a realização da Rio-92, uma conferência sobre o meio ambiente, da qual nasceram tratados, documentos e compromissos importantes como a Agenda 21. Infelizmente, o recente exemplo de Copenhague demonstra que a situação não mudou...

ATITUDES ECOLÓGICAS
Lélio Costa e Silva

Eram 169 pulgas, 38 carrapatos e 75 piolhos. Todos moravam num cão de rua. Naquele “planeta” os carrapatos preferiam o interior das orelhas, dedos, cernelha e axilas. As pulgas viviam no dorso, lombo e abdômen do cãozinho. Os piolhos no restante.
O cãozinho era uma coceira só. Sugavam-lhe o sangue injetando uma saliva irritante. Dia e noite, domingos e feriados,
Um dia alguém percebeu que o alimento estava caindo de qualidade – um sangue ralo e cada vez mais cor-de-rosa. Seria necessária uma assembléia para que todos os moradores se encontrassem. Na semana seguinte, teve início a Primeira Conferência Planetária do Meio Ambiente. O local escolhido foi o dorso do animal. Compareceram 292 pulgas, 94 carrapatos e 101 piolhos.
Logo uma pulga fez uso da palavra:
- Senhoras e senhores: tenho observado uma drástica diminuição dos recursos naturais. O planeta está morrendo. Ele está anêmico!
- As culpadas são vocês mesmas, suas pulgas apressadas... atacou uma fêmea de carrapato inchada de sangue.
- Que nada, nós até sabemos reciclar, disse uma das pulgas.
- Não entendi, disse um piolho.
- Nossas larvas, futuras pulgas, são alimentadas com os nossos próprios dejetos... isto é ou não reciclagem?
- Acho que tudo é uma questão política, completou outro carrapato.
E a reunião prosseguia acalorada. De repente, o “planeta” começou a balançar...
- Efeito estufa? Aumento da temperatura global? Queimadas? Terremotos? O fim do mundo?!
Na verdade era o cãozinho que se coçava desesperadamente num solitário jequitibá...
Ouvindo toda a discussão a árvore tentou ajudar:
- Calma gente, o mundo ainda não está acabando, mas se vocês não tomarem certas “atitudes ecológicas” isso irá acontecer...
- “Atitudes ecológicas”, como assim? Perguntaram todos ao mesmo tempo.
- Façam silêncio que logo lhes explico, pediu a árvore solitária.
Todos ficaram quietos para escutar.
-Antigamente essa praça era uma linda floresta. Inúmeras árvores de variadas espécies. Aqui viviam jequitibás, braúnas, sapucaias, cedros, ipês, jacarandás, vinháticos e muitas outras árvores. Produzíamos flores, frutos, abrigo, sombra e madeira. As folhas mortas e os restos e os restos dos animais apodreciam rapidamente com a ação do calor e da umidade freqüente. Assim, todos os nutrientes eram devolvidos à terra, alimentando-nos e possibilitando o nascimento de novas plantas. Tudo aqui era biodiversidade. Existiam orquídeas, bromélias, cipós e toda a vida animal.
E continuou:
- As copas das árvores amenizavam a queda da água da chuva que suavemente deslizava entre os galhos. Portanto, o solo não secava, nem rachava. Não havia erosão. De vez em quando, cortavam algumas árvores. Nem precisavam plantar de novo. Nós mesmas fazíamos o replantio, com a ajuda dos morcegos frugívoros, cutias, gralhas, borboletas, beija-flores e até do vento. Todos tomavam a “atitude ecológica” de participar, espalhando as sementes, enterrando-as ou polinizando as flores. Assim a floresta se sustentava.
- Mas um dia começaram a desmatar além da conta... Logo fiquei sozinha. Hoje virei mictório de cães e de gente, Sofro muito com o xixi que fazem em mim. As minhas folhas são impiedosamente varridas. Não têm mais o direito de apodrecer ao pé da árvore-mãe.
- Mas afinal, que atitudes ecológicas poderíamos tomar? Perguntou um piolho, muito aflito.
É cada um procurar meios de sugar sem exageros o alimento e dar ao “ planeta” o tempo de se recuperar, respondeu o jequitibá.
- Vamos ter que sobreviver economizando, lembrou um carrapato demonstrando preocupação – afinal todos nós podemos jejuar mais de um mês...
E assim a reunião esquentou. Foram criados manifestos e leis ambientais. Foi publicada a “Carta dos Ectoparasitas”. Os delegados foram eleitos. Todos se comprometeram a assumir atitudes ecológicas em favor do “planeta”.
Ao final dos debates, já havia 3.090 pulgas, 2.348 carrapatos, 2.251 piolhos.
No dia seguinte, o cão morreu.




Para refletir:
• O cão no texto representa o Planeta Terra e as pulgas, piolhos e carrapatos os seus habitantes.
• O sangue ralo e de baixa qualidade demonstra a exaustão dos elementos naturais do Planeta e um modo predatório de desenvolvimento.
• A população dos ectoparasitos só aumentou com o decorrer do tempo.
• Efeito estufa? Terremotos? Aumento da temperatura global? Essas indagações demonstram que os ectoparasitos tinham uma visão global da situação.
• A descrição da árvore corresponde ao procurado “desenvolvimento sustentável”.
• “As folhas mortas e os restos dos animais apodreciam”... No texto representam o lixo que pode ser totalmente reciclado.
• Os morcegos frugívoros, cutias, gralhas, borboletas, beija-flores e o vento representam os trabalhadores do Planeta.
• “Mas um dia começaram a desmatar além da conta...” Esta descrição representa a voracidade, a falta de limites, o utilitarismo exacerbado na busca imediata do lucro, desconsiderando-se o futuro do Planeta.
• “É cada um procurar meios de sugar sem exageros o alimento e dar ao planeta de se recuperar, respondeu o jequitibá” . Esta é uma ação coerente com o desenvolvimento sustentável.
• E a reunião esquentou. Foram criados manifestos e leis ambientais. Foi publicada a “Carta dos Ectoparasitos”. Os delegados foram eleitos... Você já viu essa cena antes?
• Ao final dos debates, já haviam 3.090 pulgas, 2.348 carrapatos, 2.251 piolhos. No dia seguinte, o cão morreu. Isto demonstra que as providências não saíram do discurso.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL E UM 2010 CHEIO DE LUZ E PAZ

A todos os amigos e seguidores que o Natal seja um dia de Luz , Paz e Reflexão

By: Marli Ribeiro

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Reflexão para Dezembro: GIGANTES PELA PRÓPRIA NATUREZA :Lélio Costa e Silva

Esta fábula não tem tempo certo de acontecer. Nela também os bichos, as plantas e os humanos conversam...
Então os seres humanos resolveram promover um concurso no mundo para descobrir quem seriam os maiores seres vivos do Planeta. Anúncios foram colocados em todas as regiões da Terra - desertos, oceanos, florestas e continentes gelados. Os que viviam na beira do mar logo afirmaram:
- É a baleia-azul! Seu peso passa das 150 toneladas e pode medir até 30 metros! E uma cria dela mama 380 litros de leite por dia!
- Ora, é a girafa, alguém gritou lá na África.
- Por um acaso alguém já viu um elefante? Exclamou outro. Só para se ter uma idéia um filhote já nasce com 100 quilos!
De uma floresta brasileira, alguém disse que seria uma árvore que se chamava jequitibá.
- É, mas no Brasil vi uma cobra sucuri, com mais de dez metros! Gritou outro.
- Ei!Ei! : vocês já viram uma anta? É o maior mamífero terrestre brasileiro!
E a polêmica se instalou. Reunidos para a escolha do maior “bicho", ou "planta" do mundo, aqueles humanos não se entendiam. Resolveram então nomear uma comissão para sair pelo mundo, com fitas métricas e trenas, para descobrir quem seria o maioral. O primeiro bicho encontrado foi a Baleia Azul. Como chegar perto de tão enorme animal? Difícil! Só se for de navio. Vamos lá, disse um mais audacioso.
- Olá Baleia Azul! Queremos saber se você é o maior ser vivo do mundo, indagaram entusiasmados.
- Se sou a maior é porque tem um motivo...Vocês sabiam que existem outros seres que somados são maiores que eu ? Como sou uma baleia filtradora, me alimento dos "gigantes pela própria natureza”...
- Gigantes o que? Perguntaram todos.
- Ora, numa gota de água, criaturas fantásticas vivem, reproduzem-se e morrem num mundo em que não há separação entre plantas e animais. Embora estas multidões microscópicas pareçam para muitas pessoas, insignificantes, são a base de toda a existência superior - sem elas a vida não seria possível. Experimentem examinar uma pequena porção de água do mar ao microscópio. Vocês verão trilhões de organismos vegetais e animais que nela flutuam e que a Ciência denomina "plâncton" - uma palavra que vem do grego planktos, que significa nadando. Infinitos seres “invisíveis” que asseguram o ciclo da vida. Só num verão - continuou a baleia, chego a comer em apenas um dia oito toneladas desses "gigantes". Eles em conjunto são muito maiores que eu... É tudo uma questão de entendimento de que no mundo, qualquer que seja o tamanho, cada um tem a sua função.
- E você Jequitibá, perguntaram já no Brasil, aqueles seres humanos curiosos.
- Dizem que sou uma árvore das mais altas da Mata Atlântica, mas cá de cima dos meus 50 metros vejo que não é bem assim.
- Como? Não estamos entendendo...
- Primeiro quero lhes dizer que não vivo sozinha: sou uma comunidade com milhares de amigos. Sei do valor e do significado de cada espécie que mora comigo, minha memória é sempre fecunda. Nunca me esqueço dos fungos, bactérias, aranhas, insetos ao infinito: borboletas, besouros, pernilongos, baratas, traças e também das lindas orquídeas pequeninas...
- E vocês já repararam como o ar vive cheio de micróbios?
- Micróbios?
- Sim, os menores seres do mundo são chamados de micróbios. Eles exigem um microscópio para poderem ser vistos. Quantas bactérias e vírus existem nesse mundo? Sabiam que bactérias, fungos, algas, liquens e vírus flutuam em correntes de ar numa estimativa que varia de dez a dez mil microorganismos por metro cúbico? São eles os "gigantes pela própria natureza"!
- Querem outro exemplo? Estão vendo aquelas formigas ali? Elas fazem parte dos insetos sociais, além das abelhas, cupins e outros. Chegam a formar colônias de até quinhentos mil indivíduos trabalhando unidos! Mas isso não é nada se lembrarmos que a maioria dos animais do planeta têm seis pernas, isto é, são os insetos . E nem todos descobertos e conhecidos de vocês. Para cada ser humano no mundo existem proporcionalmente cem milhões de insetos !
- Olhem agora para o chão onde pisam : Nele tem bicho pequeno, grosso, achatado, fino, liso... Lesmas, escorpiões, lacraias, carrapatos, minhocas... Cada um diferente do outro, muito escondidos, mas sempre juntos! Em uma colher de sopa de terra fofa, úmida e cheirosa da mata podem existir dez bilhões de bactérias!
- Assim, não sobrevivo muito tempo e nem vocês, sem a ajuda deles. Por sua causa cada folha seca no chão vira nova folha cá em cima nos meus galhos. Todos juntos em sua diversidade. Até as nuvens se juntam para trazer a chuva. E é essa a nossa grande riqueza - sempre estamos unidos. Por isso é preciso considerá-los também gigantes. Pela sua própria natureza.
- Só mais um lembrete , disse o jequitibá .
- Sim, concordaram prontamente aqueles humanos.
- "Olhem " também para dentro de vocês. Para o próprio corpo... Em uma boca de um ser humano pode existir um bilhão de bactérias por centímetro quadrado! Elas estão na pele, especialmente nas partes mais úmidas: axilas e entre os dedos. Também revestindo as fossas nasais, ouvidos e entre as bolsas das gengivas e dentes. A maioria vive, no entanto, no aparelho digestivo. Enfim 10% do peso (seco) do ser humano e dos outros mamíferos é composto por bactérias! Um continente de micróbios - gigantes pela própria natureza, dentro e em torno de vocês.
- Meu Deus, então estamos doentes!
- Nada disso, a maioria não produz doenças num corpo com saúde equilibrada. Não é correto lembrar-se das bactérias só por causa das doenças. Sabiam que existem bactérias que comem o lixo que produzimos como petróleo, plásticos, restos industriais, domésticos e até inseticidas?
- Nossa! Quantas lições! exclamaram todos, guardando as fitas métricas e outros instrumentos para medir.
- Esse é o nosso olhar sobre a natureza... completou o jequitibá.
E assim, ninguém disse mais nada. Todos descobriram que pensando apenas no "grande" e esquecendo os "pequenos" haviam se separado do verde, do ar, da água, da terra e deles mesmos. Tinham aprendido a ver o mundo com o microscópio e o coração.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Reflexão para Novembro:A RELIGIOSIDADE DOS BICHOS E PLANTAS - Lélio Costa e Silva

Enquanto isso em um zoológico: “Moço esse bicho não merece viver. Ele tem parte com o ‘demo’, isso não é criação de Deus”... disse uma mulher ao ver as cobras jiboias tomando um banho de sol.


Vede os peixes que são Cristos em grego. Submergem nas águas poluídas e nada bentas, muito menos fluidificadas, crucificados pelos detritos da intemperança. Mesmo assim tentam ressurgir buscando a água da Vida.
A igreja dos convidados da manjedoura não tem paramentos, nem apelos de fugaz emoção. Basta o silêncio do jumento, da ovelha, da vaca, diante da Presença. Balidos, urros, coices e mordidas da intolerância ficam para o cotidiano das pastagens.
As bíblicas serpentes prudentes jejuam e meditam quietas a despeito da interpretação literal da maldição . Não conhecem a palavra obscurantismo, porque na cadeia alimentar a lei é de causa e efeito , sem espaço para a discriminação.
Observe uma borboleta - a experiência mística da lagarta dispensa incensos, fragrâncias e bálsamos. Do amor em metamorfose nasce a beleza.
O verde existe para ser “kath holikos” sem sectarismos, pois sua vocação é pela universalidade do Todo. Se hoje as figueiras permanecem secas é porque ainda sobrevive a infecundidade espiritual. Agride-se o ambiente pela ignorância daquilo que um dia foi sagrado.
E o sal da Terra nunca será vendido em pentescostais ofertas, pois quando sai do mar da fraternidade, deixa de ser alimento, torna-se insípido.
Hoje, queimaram mais três parques nacionais, bruxas heréticas do século vinte e um. A flora erótica teve que abdicar da sua sensualidade declarando não existir mais a fotossíntese.
Queres ouvir o Cântico dos Cânticos ? Abre a tua janela , teus ouvidos e o coração. Ele acontece toda manhã, quando a passarada anuncia o alvorecer.
Vede os pombos, os morcegos e os pardais. Todos habitam igualmente, sinagogas, igrejas, santuários, casas de oração, mesquitas sobrevoando dogmas e preconceitos.
Olhando somente as uvas? Visando oferecer o melhor vinho a todos? Os ramos da videira serão sempre de um mesmo tronco.
Ofertando o pão da boa nova?
Se todos nos consideramos trigos por que enxergamos somente o joio?
Um só pastor , um só rebanho, na diversidade da vida, a unicidade do Criador .
Um mesmo sol, uma mesma lua...
A natureza é ecumênica.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Reflexão para Setembro: A HIERARQUIA DAS GALINHAS E O PODER - Lélio Costa e Silva

O que faz o poder demonstrar o lado “sombra” que existe em nós, fazendo emergir a tirania? O que permite a um temporário detentor do poder tornar-se uma pessoa diferente das demais?
O estudo da conduta animal pode ser um exemplo para reflexões e analogias em nosso cotidiano. Assim, a inverossímil observação da hierarquia - ordem ou subordinação de poderes, em um galinheiro pode nos revelar aspectos interessantes e esclarecedores nesse parentesco entre o ser humano e os bichos. Desde algumas décadas cientistas (etólogos) noruegueses e norte-americanos descreveram como ocorre a luta pelo poder entre as galinhas e também entre os galos, baseada numa “ dupla hierarquia de bicadas”. A galinha mais corajosa, mais forte e mais agressiva é considerada a líder pelo resto do grupo. Na hora de dormir, a posição das galinhas num poleiro revela quem é a “chefe”, chamada “número 1” e as demais subalternas. A “chefe” escolhe o lugar mais alto e protegido e ao lado, ou logo abaixo a galinha número 2, a 3 , a 4 e assim por diante. Existem também aquelas que nem podem subir no poleiro e são essas que apresentam mais visivelmente falhas na plumagem provenientes de bicadas das mais poderosas, numa evidente postura de submissão.
Entre os galos, que geralmente não bicam as galinhas, a hierarquia consiste resumidamente em um macho senhor e dono do galinheiro fazer dos demais machos se sentirem “galinhas”.
As galinhas de posição mais elevada são também privilegiadas na hora de dormir e comer e as inferiores só terão esse direito quando as poderosas se refestelarem. Ou então acordar bem mais cedo para comer escondido. É sabido também que as “chefes” além de acordar tarde são menos eficientes no interesse sexual, mesmo cercadas de privilégios e imunidades. Regras regulamentam o comportamento diante da sua presença : as galinhas subalternas afastam-se humildemente para lhe abrir caminho. Outras observações científicas indicam que quanto mais alta a posição social de uma galinha, menor a predisposição em se entregar ao galo, ao contrário das galinhas ditas “inferiores”, bem mais solícitas ao primeiro chamado do rei do galinheiro.
Bem, para esclarecer se toda essa história não passa de uma ficção a solução é visitar e observar pacientemente um galinheiro...
Mas, sobre o poder vale ainda refletir sobre alguns pensamentos :
“Os principais desejos do homem são os de poder e de glória.” Bertrand Russel
“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova, o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham Lincoln
“O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim. “Rubem Alves
“É possível exercer o poder de maneira “empresarialmente eficaz, psicologicamente curativa e pessoalmente gratificante”. James Hillman

Outras informações sobre a hierarquia das galinhas :

· Da mesma forma que para comer, as galinhas bebem uma após a outra , numa ordem rigorosa : A galinha 1 bebe primeiro e as demais esperam.A galinha 2 fica mais próxima do bebedouro e as galinhas 3 e 4 nem podem se aproximar até que 1 e 2 tenham terminado de beber.

· Na hora de dormir :
A galinha 1 escolhe o lugar mais protegido num canto. Ao seu lado vem a galinha 2, depois a 3 e na extremidade mais fria do mesmo poleiro a galinha 4. A 5 só pode ficar no andar debaixo das quatro primeiras . As falhas na plumagem indicam a intensidade das bicadas. Quanto mais depenadas, mais subalternas na escala hierárquica elas se encontram.

· Após um certo tempo de hierarquia estabelecida, cessam as bicadas : basta apenas um “olhar” da galinha superior para que as outras se curvem ou afastem-se.

· Se uma galinha for retirada do galinheiro por duas semanas, ela perderá seu “ posto” e terá que lutar para reconquistá-lo.

· Uma galinha recém-chegada num galinheiro terá que ser extraordinariamente agressiva para conquistar algum posto.

· Quando as galinhas de dois galinheiros se misturam o resultado é aterrorizador: penas para todos os lados e parada da postura de ovos e uma batalha feroz.
· Na hora de comer: as galinhas “ inferiores” não tem o direito de nem “ ciscar” no terreno enquanto as superiores estiverem comendo.

· Se as inferiores quiserem comer mais despreocupadas sem o risco de novas bicadas elas devem levantar cedinho, ainda escuro, enquanto as superiores dormem despreocupadamente.

· As galinhas privilegiadas “ pavoneiam-se” com a cabeça bem erguida, e passam com a plumagem bem eriçada ao lado das “ párias” , que , abaixando a cabeça, afastam-se submissas para lhes abrir caminho.

· As galinhas da “classe inferior” necessitam de mais tempo para atingir a maturidade sexual.

· As galinhas “párias” ao verem um galo deitam-se sobre o ventre e abrem as asas num convite ao acasalamento,sempre disponíveis a um mínimo chamado do galo. Já as superiores quanto maior a hierarquia menor a disposição para se entregarem a um galo.

· Plumagem da galinha chefe :mais reluzente e bem cuidada.Plumagem das inferiores : sem brilho e cheia de falhas.

sábado, 5 de setembro de 2009

Reflexão para Agosto: CARDÁPIO - Lélio Costa e Silva e Maria Pacheco M. C e Silva

Bom dia!
Escovei meus dentes brilhantes com AU-VIII, sacarina, fosfato mono-sódico, dióxido de titânio, formaldeído, fluoreto de sódio, polietilenoglicol e corantes verde e azul.
Bebi um delicioso café, adoçado com ciclamatos de cálcio e sódio e sacarina sódica.
Comi biscoitos de A-VIII e ET-III e um bolo de fosfato monocálcico, amanteigados com C-III, H-VII, P-IV e A-II, tudo aromatizado artificialmente.
Almocei um arroz temperado com parafina, AU-VI, AU-VII, inosinato e guanilato de sódio e corante caramelo, acompanhados de um filé de dietiestilbestrol, mal-passado.
Adorei a sobremesa: azul brilhante, verde nº 3 e violeta nº 1, flavorizantes, espessantes, adoçantes, estabilizantes, acidulantes, antiumectantes...
À tarde, senti necessidade de um lanche:
Língua, gordura, cartilagem, traquéias, tendões e aparas de carcaças coloridos com nitratos e nitritos. Pão de bromato. Maionese de ácido lático, anti-oxidante E.D.T.A. e ET-XXVIII.
“Matei” a sede bebendo um refrigerante com A-XIV, H-II, C-II, F-I, P-I, ET-XIX, ET-XXII, ET-XXX.
Para completar, um refrescante sorvete com aromas artificiais de leite condensado, chocolate, toffee e baunilha, além de C-II e C-V.
À noite, recusei o jantar, afinal um regime é sempre bem-vindo. Despistei a vontade, mascando chicletes com aroma artificial de tutti-frutti, ET-I e C-II.
Para relaxar, já que ninguém é de ferro, bebi um cervejota com 4,7% de álcool, AX-IV, ET-XXVI e H-VII.
Boa noite!
Prometo que até o ano 2.012 irei explodir.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reflexão para Julho: UMA ESTRELA DE VIRTUDES - Lélio Costa e Silva

Primeiro busquei o significado da palavra virtude: “uma disposição firme e constante para a prática do bem, uma força que age ou que pode agir.”
Depois adormeci querendo saber quais seriam as principais virtudes que tornam uma pessoa melhor. Então alguém em meus sonhos disse: “A virtude de um ser é o seu valor” E me contou sobre um asteróide e seus cinco ensinamentos estelares.
Onde o azul era infinito, mar e céu viviam unidos. Neles, entre latitudes e profundidades, um ser da fantasia, uma estrela-do-mar, transitava. Pouco convencional, sem rabo nem cabeça, nem lado direito ou esquerdo, cinco braços eqüidistantes. Contrariando a normalidade? Que mistérios, que semelhanças? Nem se importaria se os outros a considerassem diferente. E se porventura houvesse interrogações, elogios ou desprezo, não se incomodaria - nunca se sentia mais importante que os outros. Ali a Simplicidade era uma presença virtuosa.
E, quando queria se deslocar naquelas águas marinhas, qualquer lado seu podia tomar a iniciativa, pois os outros obedeciam numa ação coordenada. Uma segunda virtude ali se espelhava: A Cordialidade. A ausência do individualismo, a aquiescência em favor do outro em concordância divina.
Diante das marés turbulentas, mesmo com o aparentemente sistema nervoso primário, sem cérebro, podia entender o que ocorria ao seu redor, pois para sentir o toque e a luz tinha sensores nos braços e só. Contava com o favor das ondas para não perecer diante da luz solar implacável queimando a areia ou virar comida de gaivotas ou falcões-pescadores. A cada retorno às águas profundas borbulharia mais uma virtude, a Gratidão - a capacidade de expressar o verbo agradecer retribuindo com o melhor de si : o ato de dividir a própria alegria pelo gesto de Solidariedade do mar.
Entretanto apresentava habilidades surpreendentes, um talento notável para a regeneração e o desprendimento. Quando perdia um braço ao ser manuseada rudemente podia em, alguns casos, cultivar um novo, após determinado tempo e até fazer nascer de um pedaço um novo indivíduo completo. Maior Tolerância impossível. De um ferimento o recomeço, de um fragmento a lição de mais um sonho.
E hoje desejo acordar para a luta diária querendo ser aquela estrela-do-mar, no oceano da vida. Aprendi que para isso a minha principal tarefa será vivenciar em mim e descobrir nos outros a somatória de todas as virtudes, o Amor.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Reflexão para Junho:DE UM RIO PRÓDIGO PARA O MAR : Lélio Costa e Silva

Querido Pai, estou voltando...Depois de gastar o que lhe pedi.Venho de terras longínquas onde corri dissolutamente.Por acreditar que os rios fossem eternos e os homens sábios, ofereciminhas águas para atender a todas as satisfações possíveis,na ilusão de ser um fator condicionante para o desenvolvimento econômico.Mas, presenciei com dor e espanto, a derrubada das minhas matasciliares. Em troca, recebi a monotonia das forrageiras e o pisoteio dosuperpastoreio.Queimaram a fertilidade dos solos que me margearam. Com tristeza,ladeado de pragas e pestes, tive de contemplar a desfiguração dapaisagem pela erosão.E na ânsia de dormir para esquecer a realidade só me restou a enganosaopção pelos agrotóxicos. Hoje estou viciado em defensivos epesticidas.Ah! Bondoso pai. Preciso esquecer a minha insatisfação. Garimparam aminha auto-estima.Também queria lhe contar que absorvi desesperado o choro das cidadessobre as minhas corredeiras...Densas lágrimas nascidas dos esgotos domésticos e industriais. Prantossem porvir.Águas inquietas.Mas, agora percebi a grande sede e padeço necessidades...E com minhas últimas quedas reuni uma pequena sobra de energia,atributo dos rios cujas águas despencam das pedras, para lhe suplicar:Quero regressar, mesmo não sendo digno de ser chamado seu filho edesfrutar da sua oceânica compaixão... Tenho saudades dos jardins decorais da nossa casa, a morada do arco-íris.E então, em seu colo profundo , descansarei as águas feridas nosedoso tapete das suas areias para desfrutar das marés vivificantes.Pai, repito, estou voltando, em plena mansidão, como convém a todorio que se aproxima do mar...Prepare a minha festa. Já posso imaginar a sua voz dizendo: “ Trazeidepressa a melhor roupa, adornada de estrelas-do-mar. Ponde-lhe o anelde pérolas e a carícia do vento, meu filho pródigo retornou...”No entanto, se algum dia, a consciência renascer nos locais ondepassei, juro que lhe suplicarei mais uma chance....E assim, minhas águas evaporadas pelo calor do Sol formarão nuvens eretornarão ao leito original, pelo milagre das chuvas. E novamente,serei um rio , parte de todos os seres vivos.Por enquanto, peço-lhe perdão por lavar a roupa suja em casa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Reflexão Para Fevereiro: O URUBU EM SEU PRÓPRIO DIREITO- Lélio Costa e Silva

AS VOZES DA NATUREZA MANDAM DIZER QUE NÃO SOU EU O SÍMBOLO DO AZAR.
QUERO CONTINUAR A REMEXER A CABEÇA NUA NAS CARNES PUTREFATAS, EXECUTANDO A MINHA TAREFA BIOLÓGICA, MAS ANSEIO TAMBÉM SER ENTENDIDO COMO UMA AVE SUPER-HIGIÊNICA, INTEGRANTE DAS CADEIAS ALIMENTARES.
QUERO CONTINUAR A POR MEUS OVOS NOS BURACOS E PEDRAS DOS MORROS, MAS NÃO DESEJO VER MEUS FILHOTES APEDREJADOS E MAU VISTOS PELA ESPÉCIE HUMANA.
QUERO ABRIR AS ASAS AO SOL E VOAR EM ESPIRAL COM OS MEUS COMPANHEIROS E MOSTRAR QUE A MINHA PLUMAGEM PODE TER O MESMO ESPLENDOR DAS OUTRAS AVES IRMÃS.
QUERO DISPENSAR DO MEU DESJEJUM AS CARCAÇAS CONTAMINADAS PELOS VENENOS ACUMULADOS, ESPALHADOS PELO HOMEM - VERDADEIRAS BOMBAS DE EFEITO RETARDADO, QUE DESTROEM A MIM E A TODA VIDA DO PLANETA.
QUERO DESCONSIDERAR A VERGONHA E O CONSTRANGIMENTO DAS PESSOAS COM A MINHA PRESENÇA EM FRENTE ÀS SUAS CASAS - “TODO URUBU TEM QUE IR ONDE O LIXO ESTÁ”.
QUERO ENTENDER ESSA ECOLOGIA URBANA, ONDE O LIXO SE ACUMULA CADA VEZ MAIS EM LOTES, RUAS, PRAÇAS E MARGENS DE RIOS AUMENTANDO EXCESSIVAMENTE O MEU TRABALHO.
FINALMENTE, AGRADEÇO OS ADJETIVOS CONCEDIDOS À MINHA ESPÉCIE: LIXEIRO DA NATUREZA, SARCÓFAGO ALADO, INSPETOR DO LIXO, NECRÓFAGO...
E, EM NOME DE UMA POSSÍVEL LINGUAGEM UNIVERSAL, DEIXO AQUI O MEU ÚLTIMO PEDIDO:
- PELO TRABALHO DOBRADO E PELO RISCO DE VIDA, QUERO TAMBÉM RECEBER AS MINHAS HORAS-EXTRAS E O MEU ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.