sexta-feira, 9 de abril de 2010

Reflexão para Abril: APRENDENDO A VIVER - Lélio Costa e Silva

A Educação Ambiental tem sido identificada como o elemento essencial para o desafio da sustentabilidade. Mas, de que forma esse objetivo pode ser alcançado?
Porque mesmo diante de tanta informação as mudanças de postura têm exigido tanto tempo e paciência?
Como intervir nessa cisão entre o conhecimento e a sensibilidade para que aconteça a ação consciente?
Talvez exista somente uma maneira: “aproximar” o conhecimento do coração juntando razão e sensibilidade. Só assim, um dia a mão que atira o lixo pela janela do carro recuará. Ou guardará o papel do bombom no bolso, numa festa de aniversário onde o anfitrião se esqueceu de colocar uma pequena lixeira discreta num canto. Uma demonstração de que o gesto conseguiu ser interceptado pelo coração. E aquele ser humano nunca mais será mais a mesma pessoa.
Assim, cada indivíduo tem o seu momento de despertar desse sonambulismo. Mas, como e quando isso pode acontecer? Em que momento O ato ou resultado de aprender a verdadeira natureza das coisas nos faz enxergar intuitivamente?
Valho-me de um exemplo próprio...
Nos anos setenta e oitenta o discurso ambiental se amparava basicamente nos aspectos de conservação da natureza. Nessa época a educação ambiental engatinhava caracterizando-se por apelos dramáticos visando a preservação de espécies consideradas “bandeira”: mico-leão-dourado, urso panda, ararinha azul e outros. Mas a minha melhor lição foi a de conhecer uma criança do meio rural em 1985 durante um curso de educação ambiental, quando ela me perguntou de forma pausada e certeira: “Para o senhor o que é meio ambiente?” “O que o senhor pensa da natureza?” Ora! Tínhamos passado dois dias falando de bichos e plantas exaustivamente e aquele menino não se dava por satisfeito - pensei. Depois, as professoras que dividiam as responsabilidades comigo no mesmo curso, o qual exigia alguns requisitos para a participação, me informaram: “Lélio, você reparou que as mãos desse menino estão calejadas? Para participar desse curso ele capinou o lote do vizinho para vir de calça comprida como pedimos. Com o dinheiro ele comprou a calça e ainda vendeu seu galo de estimação para poder comprar os sapatos.”
Daquele dia em diante percebi que Educação Ambiental era muito mais do que a discussão apenas de aspectos ecológicos. E assim elementos sociológicos, pedagógicos, econômicos, históricos, jurídicos, políticos e filosóficos ampliariam meu conceito de Educação Ambiental na sequência dos anos.
A partir da lição ensinada por aquele menino, aprendi a sonhar e projetar possíveis transformações no ambiente em que vivo. E a exercitar a virtude da humildade.