segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Reflexão para Dezembro: GIGANTES PELA PRÓPRIA NATUREZA :Lélio Costa e Silva

Esta fábula não tem tempo certo de acontecer. Nela também os bichos, as plantas e os humanos conversam...
Então os seres humanos resolveram promover um concurso no mundo para descobrir quem seriam os maiores seres vivos do Planeta. Anúncios foram colocados em todas as regiões da Terra - desertos, oceanos, florestas e continentes gelados. Os que viviam na beira do mar logo afirmaram:
- É a baleia-azul! Seu peso passa das 150 toneladas e pode medir até 30 metros! E uma cria dela mama 380 litros de leite por dia!
- Ora, é a girafa, alguém gritou lá na África.
- Por um acaso alguém já viu um elefante? Exclamou outro. Só para se ter uma idéia um filhote já nasce com 100 quilos!
De uma floresta brasileira, alguém disse que seria uma árvore que se chamava jequitibá.
- É, mas no Brasil vi uma cobra sucuri, com mais de dez metros! Gritou outro.
- Ei!Ei! : vocês já viram uma anta? É o maior mamífero terrestre brasileiro!
E a polêmica se instalou. Reunidos para a escolha do maior “bicho", ou "planta" do mundo, aqueles humanos não se entendiam. Resolveram então nomear uma comissão para sair pelo mundo, com fitas métricas e trenas, para descobrir quem seria o maioral. O primeiro bicho encontrado foi a Baleia Azul. Como chegar perto de tão enorme animal? Difícil! Só se for de navio. Vamos lá, disse um mais audacioso.
- Olá Baleia Azul! Queremos saber se você é o maior ser vivo do mundo, indagaram entusiasmados.
- Se sou a maior é porque tem um motivo...Vocês sabiam que existem outros seres que somados são maiores que eu ? Como sou uma baleia filtradora, me alimento dos "gigantes pela própria natureza”...
- Gigantes o que? Perguntaram todos.
- Ora, numa gota de água, criaturas fantásticas vivem, reproduzem-se e morrem num mundo em que não há separação entre plantas e animais. Embora estas multidões microscópicas pareçam para muitas pessoas, insignificantes, são a base de toda a existência superior - sem elas a vida não seria possível. Experimentem examinar uma pequena porção de água do mar ao microscópio. Vocês verão trilhões de organismos vegetais e animais que nela flutuam e que a Ciência denomina "plâncton" - uma palavra que vem do grego planktos, que significa nadando. Infinitos seres “invisíveis” que asseguram o ciclo da vida. Só num verão - continuou a baleia, chego a comer em apenas um dia oito toneladas desses "gigantes". Eles em conjunto são muito maiores que eu... É tudo uma questão de entendimento de que no mundo, qualquer que seja o tamanho, cada um tem a sua função.
- E você Jequitibá, perguntaram já no Brasil, aqueles seres humanos curiosos.
- Dizem que sou uma árvore das mais altas da Mata Atlântica, mas cá de cima dos meus 50 metros vejo que não é bem assim.
- Como? Não estamos entendendo...
- Primeiro quero lhes dizer que não vivo sozinha: sou uma comunidade com milhares de amigos. Sei do valor e do significado de cada espécie que mora comigo, minha memória é sempre fecunda. Nunca me esqueço dos fungos, bactérias, aranhas, insetos ao infinito: borboletas, besouros, pernilongos, baratas, traças e também das lindas orquídeas pequeninas...
- E vocês já repararam como o ar vive cheio de micróbios?
- Micróbios?
- Sim, os menores seres do mundo são chamados de micróbios. Eles exigem um microscópio para poderem ser vistos. Quantas bactérias e vírus existem nesse mundo? Sabiam que bactérias, fungos, algas, liquens e vírus flutuam em correntes de ar numa estimativa que varia de dez a dez mil microorganismos por metro cúbico? São eles os "gigantes pela própria natureza"!
- Querem outro exemplo? Estão vendo aquelas formigas ali? Elas fazem parte dos insetos sociais, além das abelhas, cupins e outros. Chegam a formar colônias de até quinhentos mil indivíduos trabalhando unidos! Mas isso não é nada se lembrarmos que a maioria dos animais do planeta têm seis pernas, isto é, são os insetos . E nem todos descobertos e conhecidos de vocês. Para cada ser humano no mundo existem proporcionalmente cem milhões de insetos !
- Olhem agora para o chão onde pisam : Nele tem bicho pequeno, grosso, achatado, fino, liso... Lesmas, escorpiões, lacraias, carrapatos, minhocas... Cada um diferente do outro, muito escondidos, mas sempre juntos! Em uma colher de sopa de terra fofa, úmida e cheirosa da mata podem existir dez bilhões de bactérias!
- Assim, não sobrevivo muito tempo e nem vocês, sem a ajuda deles. Por sua causa cada folha seca no chão vira nova folha cá em cima nos meus galhos. Todos juntos em sua diversidade. Até as nuvens se juntam para trazer a chuva. E é essa a nossa grande riqueza - sempre estamos unidos. Por isso é preciso considerá-los também gigantes. Pela sua própria natureza.
- Só mais um lembrete , disse o jequitibá .
- Sim, concordaram prontamente aqueles humanos.
- "Olhem " também para dentro de vocês. Para o próprio corpo... Em uma boca de um ser humano pode existir um bilhão de bactérias por centímetro quadrado! Elas estão na pele, especialmente nas partes mais úmidas: axilas e entre os dedos. Também revestindo as fossas nasais, ouvidos e entre as bolsas das gengivas e dentes. A maioria vive, no entanto, no aparelho digestivo. Enfim 10% do peso (seco) do ser humano e dos outros mamíferos é composto por bactérias! Um continente de micróbios - gigantes pela própria natureza, dentro e em torno de vocês.
- Meu Deus, então estamos doentes!
- Nada disso, a maioria não produz doenças num corpo com saúde equilibrada. Não é correto lembrar-se das bactérias só por causa das doenças. Sabiam que existem bactérias que comem o lixo que produzimos como petróleo, plásticos, restos industriais, domésticos e até inseticidas?
- Nossa! Quantas lições! exclamaram todos, guardando as fitas métricas e outros instrumentos para medir.
- Esse é o nosso olhar sobre a natureza... completou o jequitibá.
E assim, ninguém disse mais nada. Todos descobriram que pensando apenas no "grande" e esquecendo os "pequenos" haviam se separado do verde, do ar, da água, da terra e deles mesmos. Tinham aprendido a ver o mundo com o microscópio e o coração.